Lula está num mato sem cachorro. Escolheu como desafeto nada menos que Donald Trump, o homem mais poderoso do mundo. Talvez tenha imaginado que o caso não passaria de conversa, que com uma ou duas cervejinhas estaria tudo resolvido. Deve ter ficado com a barba arrepiada ao constatar que o homem não estava para brincadeira.
Trump usou sua caneta carregada de tinta para ameaçar com o aumento de tarifas 25 países, entre eles os mais poderosos do planeta. Disse que irá impor taxa de 30% ao México e à União Europeia até 1º de agosto, só para citar dois dos centros econômicos mais expressivos. Além das questões econômicas, nas quais o presidente americano alega que os Estados Unidos são muito prejudicados, suas justificativas envolvem também outros temas.
México e Rússia
No caso do México, na carta enviada à presidente Claudia Sheinbaum, Trump evidenciou que as tarifas serão cobradas devido à crise do fentanil nos Estados Unidos, provocada em boa parte pela incompetência dos mexicanos em controlar os cartéis, que, segundo ele, são formados pelas pessoas mais desprezíveis que já caminharam sobre a Terra. Afirmou que são elas que despejam essas doses em seu país.
Já na taxação que pretende impor à Rússia, a causa adicional foi o confronto sem fim com a Ucrânia. Prometeu que resolveria a guerra em 24 horas, mas, passados três meses, o conflito continua. Por isso, ameaçou impor uma taxa de 100% se, em até 50 dias, a guerra não terminar.
Sobrou para o 03
Ou seja, Trump não age apenas em uma frente, faz um combo para resolver várias questões de uma só vez. No caso do Brasil, os motivos para ameaçar com uma taxa de 50% recaíram sobre a perseguição feita a Jair Bolsonaro. Sem pestanejar, Lula foi à caça de um culpado, e encontrou: Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do ex-presidente.
Ora, querer culpar Eduardo pela ameaça dessa cobrança de taxa é ignorar a leitura geopolítica mais ampla. Talvez o deputado licenciado tenha dado os argumentos de que o chefe do Executivo americano precisava. Mas, se não fosse assim, Trump os encontraria por outro caminho. O presidente brasileiro abusou da sorte.
Lula cutucou a fera com vara curta
Vale lembrar que Lula demonstrou antagonismo contra Trump desde o princípio. Foi ele quem desfraldou a bandeira em defesa de Kamala Harris nas últimas eleições presidenciais. Disse que torcia por Kamala nos EUA para que não houvesse a volta do fascismo e do nazismo. Declarou ainda: “Nós vimos o que foi o presidente Trump no final do mandato, fazendo aquele ataque contra o Capitólio.”
Quando Trump disse que os países que se alinharem às políticas antiamericanas do Brics pagariam tarifa adicional de 10%, Lula não hesitou antes de confrontá-lo: “Eu acho muito equivocado e muito irresponsável um presidente ficar ameaçando os outros em redes digitais. Tem outras coisas e outros fóruns para um presidente do país do tamanho dos Estados Unidos falar com outros países […] não queremos um imperador.” Foi atendido. No lugar das redes sociais, Trump enviou uma carta pessoal, aumentando a taxa para 50%.
Saudade do Barão do Rio Branco
Esses comentários queimam as caravelas e impedem qualquer tipo de “arrependimento”. Ou será que alguém cogita a hipótese de o Brasil retaliar os Estados Unidos e se sair bem nesse embate? Não tem volta. As reuniões desencontradas já estão sendo delineadas. Nenhuma considera a presença de Lula. Ele só atrapalharia as negociações. A história da jabuticaba virou piada diante da gravidade do que está por vir.
A diplomacia brasileira sempre foi uma das mais admiradas do mundo. Desde o início do século XX, com a atuação exemplar do Barão do Rio Branco, chanceler das Relações Exteriores, o Brasil é respeitado por suas ações diplomáticas. Entre esses estreitos contatos estiveram os Estados Unidos, mesmo sob governos de diferentes matizes ideológicas. O atual isolamento parece ser inédito em sua profundidade.
Quem se habilita?
O time atual, provavelmente envolvido por questões ideológicas, não mantém um único contato efetivo com os americanos. Tentaram, mas não foram atendidos. Diferente dos outros países, que já estão em conversas adiantadas para resolver o problema antes da data determinada.
A situação é delicada. Já falaram em Alckmin para aparar as arestas. Tarcísio declarou interesse em encontrar saídas. Alguns senadores procuram alternativas. Pois é, falta apenas uma quinzena para o dia 1º de agosto. E a pergunta mais importante é esta: Quem vai pôr o sino no gato? Siga pelo Instagram: @polito