A cinta abdominal é uma faixa elástica que envolve a região da barriga. Ela é muitas vezes recomendada após cirurgias abdominais — como cesarianas, hérnias, retiradas de vesícula, entre outras — com o objetivo de “segurar” a barriga, diminuir a dor e dar mais segurança aos movimentos. Muitos pacientes relatam sentir um alívio ao usá-la, especialmente nos primeiros dias após a cirurgia. A sensação de proteção e firmeza pode ajudar a caminhar com mais segurança e até respirar com menos desconforto.
O que dizem os estudos?
Pesquisas científicas recentes indicam que o uso da cinta pode ajudar a reduzir a dor e aumentar o conforto nos primeiros dias depois da cirurgia. Isso facilita que o paciente se levante, ande e volte mais rapidamente às atividades leves — o que é algo muito positivo. Porém, quando se trata de prevenir complicações mais sérias, como abertura dos pontos, acúmulo de líquidos (seroma), infecção ou até hérnias futuras, os estudos mostram que a cinta não faz diferença significativa. Ou seja: ela pode ajudar no alívio da dor, mas não substitui os cuidados médicos nem evita complicações mais graves.
Cuidado com o uso prolongado
Apesar de parecer inofensiva, o uso prolongado da cinta pode ter efeitos negativos. Um deles é a fraqueza dos músculos da barriga, que podem ficar “preguiçosos” se a cinta for usada por muito tempo. Outro risco é atrapalhar a respiração, especialmente em pessoas que já têm doenças pulmonares. E se o paciente se sentir muito dependente da cinta, pode acabar se movimentando menos, o que aumenta o risco de problemas como trombose.
Quando usar — e por quanto tempo?
Segundo especialistas, a cinta pode ser usada por curtos períodos (3 a 7 dias) após a cirurgia, principalmente se o paciente sentir dor ou insegurança para se movimentar. O ideal é que o uso seja sempre orientado por um médico ou fisioterapeuta, e que venha acompanhado de movimentação precoce, exercícios respiratórios e outros cuidados da recuperação.
Conclusão
A cinta abdominal não é uma vilã, mas também não é uma solução milagrosa. Ela pode ser uma aliada no controle da dor, mas não deve ser usada como forma de evitar complicações mais sérias. Como em toda recuperação cirúrgica, o mais importante é seguir as orientações médicas, manter-se ativo dentro dos limites seguros e cuidar da alimentação e da hidratação.
*Por Antonio Couceiro Lopes (CRM 100656 SP | RQE 26013)
Cirurgião do aparelho digestivo e membro Brazil Health
Fontes médicas:
-
Cochrane Library (2020)
-
JAMA Surgery (2019)
-
BMC Surgery (2021)
-
Surgical Endoscopy (2020)
-
Annals of Surgery (2018)