O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira (22) que a Intel aceitou transferir 10% de participação acionária para o governo americano. O movimento ocorre em meio a pressões da Casa Branca sobre o setor de semicondutores e pode transformar o país em um dos maiores acionistas da fabricante de chips.
A informação surge poucos dias depois de Trump ter pedido a saída do CEO da Intel, Lip-Bu Tan, alegando vínculos passados do executivo com companhias chinesas. Apesar do atrito, o encontro entre os dois na semana passada abriu espaço para a negociação.
Como surgiu o acordo
Segundo Trump, a decisão foi tomada após uma reunião direta com Tan, em Washington. “Eu disse que acho que seria bom ter os Estados Unidos como seu parceiro. Ele concordou, e eles concordaram em fazer isso”, declarou o presidente a jornalistas.
Fontes da Casa Branca ouvidas pela Associated Press, sob anonimato, confirmaram que o anúncio oficial deve ser feito ainda hoje.
A operação envolve a conversão de cerca de US$ 7,9 bilhões do fundo do CHIPS Act e outros US$ 3 bilhões do programa Secure Enclave do Pentágono em participação acionária. Essa medida já vinha sendo estudada há semanas.
O que muda para a Intel
Com a entrada do governo no capital, a Intel não deve ceder assento no conselho ou funções de governança. Ainda assim, especialistas acreditam que a medida coloca a companhia sob maior pressão para entregar projetos estratégicos, como a fábrica em Ohio, que acumula atrasos.
Analistas do Bank of America avaliam que o acordo pode favorecer a expansão da produção de chips em solo americano, já que clientes do setor tendem a valorizar cadeias produtivas mais próximas. Por outro lado, há riscos de diluição de 10% para os acionistas atuais e de reação negativa da China, mercado que respondeu por quase 30% das vendas da empresa em 2024.
Contexto mais amplo
O governo Trump não pretende parar na Intel. Agora, o plano é negociar participações similares em outras fabricantes, incluindo Micron e Samsung, embora gigantes como TSMC tenham resistido, chegando a ameaçar devolver incentivos caso fossem obrigadas a ceder ações.
O movimento é uma verdadeira grande mudança na relação entre setor público e privado nos Estados Unidos, sinalizando uma tentativa de Washington de assumir mais controle sobre cadeias críticas de tecnologia, em meio à disputa com a China e à busca por maior independência em semicondutores.
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O que esperar a seguir
Se confirmado, o acordo torna o governo americano um dos principais acionistas da Intel e de fato abre precedente para novos arranjos entre Estado e empresas de tecnologia.
Para investidores e concorrentes, a sinalização é clara: a guerra dos chips entrou em uma fase em que política e negócios estão cada vez mais entrelaçados.
Fonte: Associated Press