PL do Licenciamento: Lula entre o legado verde e o lobby cinza

Faltando poucos meses para o Brasil sediar a COP30 em Belém, o presidente Lula está diante de uma escolha que vai além da técnica ou da política: é uma decisão simbólica — entre manter um discurso de liderança climática ou ceder ao velho modelo de desenvolvimento baseado em pressa, pressão e desmonte institucional. O Projeto de Lei 2.159/2021, aprovado pela Câmara em julho, institui o chamado “autolicenciamento”, permitindo que até 90% das atividades licenciáveis sejam autorizadas por simples autodeclaração do empreendedor, sem análise técnica do Ibama. A proposta também reduz o papel de comunidades impactadas, ignora riscos em áreas sensíveis como a Amazônia e a Mata Atlântica, e compromete o controle sobre grandes obras públicas e privadas. No evento Global Citizen Now, em Belém, o presidente do Ibama e a diretoria do Greenpeace pediram veto integral ao projeto. Segundo eles, o texto desmonta a capacidade do Estado de proteger o meio ambiente, fragiliza o sistema de licenciamento ambiental e viola compromissos assumidos pelo Brasil internacionalmente. E aqui está o ponto central: Lula foi eleito com forte apoio da comunidade ambiental, prometendo recuperar instituições desmontadas, enfrentar o desmatamento, garantir participação social e recolocar o Brasil na liderança da agenda climática global. A aprovação desse PL contraria tudo isso.

cta_logo_jp
Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp!

O governo já sinalizou que avalia “vetos parciais”. Mas a verdade é que vetar parcialmente um projeto estruturalmente problemático é como trocar os pneus de um carro com o motor fundido. O núcleo do projeto é incompatível com o modelo de desenvolvimento sustentável que o governo diz defender. O presidente ainda tem tempo — até 8 de agosto — para decidir. Mas essa não é uma escolha técnica, é um gesto político com peso histórico. Ou Lula entrega coerência e reafirma seu legado ambiental com o veto total, ou envia um sinal ambíguo ao mundo às vésperas da COP30. Na prática, vetar esse projeto é dizer que o Brasil quer liderar a transição verde de fato — e não apenas discursar sobre ela. Manter o texto como está é assinar um pacto com o passado. E arriscar comprometer, com um só gesto, todo o capital ambiental e diplomático construído até aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima

Review My Order

0

Subtotal